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ELES AMAM SEUS AMIGUINHOS
Protetora de animais fala sobre os desafios da causa animal em Alagoas 08/12/2014 às 14:50:28

Monique é uma jovem sonhadora. Aos 28 anos de idade, a comerciante alagoana do ramo de vestuário e mãe do pequeno Arthur – e de inúmeros cães e gatos – trava enormes batalhas a cada dia para manter de pé o trabalho voluntário que realiza, principalmente, com o coração. 

Com muita perseverança, a missão é tirar animais abandonados e maltratados das ruas e oferecer a eles uma nova oportunidade.

O “combustível” depende de terceiros. São doações que podem chegar, mas nunca são garantidas. E é nesse ritmo que ela abriga os “peludos” que a sociedade finge não ver. “O aluguel é pago através da venda de produtos novos ou seminovos que nos são doados para que façamos bazares. Também recebemos ração e produtos de limpeza. No fim das contas as pessoas podem ajudar de várias maneiras”.

Chegou a iniciar o curso de Medicina Veterinária, mas não conseguiu concluir. Preferiu continuar realizando o trabalho de caridade e solidariedade, levando até os profissionais formados aqueles animais que, não fosse por ela, estariam condenados à solidão e ao abandono.

LÍVIA HOLANDA – Como começou seu trabalho como protetora independente de animais?

MONIQUE TACIANE – Começou quando eu era voluntária do Núcleo de Educação Ambiental Francisco de Assis (Neafa), em 2006. Chegou um caso de atropelamento de uma gata na avenida Fernandes Lima e o Neafa não podia resgatar porque não tinha como ir buscar o animal. A moça que ligou dizia que tinha tirado ela da pista e deixado na Praça Centenário. Como o Neafa fica pertinho da praça, resolvi ir lá. Quando cheguei, ela tava assustada com o barulho do trânsito, com os olhos arregalados. Só de lembrar me dá vontade de chorar. Levei ela pro Neafa e, depois que foram feitos os exames, descobrimos que ela tinha fraturado a coluna e que não ia mais poder andar. Nessa época o procedimento adotado pelo Núcleo, para esses casos, era a eutanásia. Mas eu me responsabilizei por ela. Esse foi o meu primeiro resgate. Eu consegui uma madrinha que pagou todo o tratamento, consegui a cadeira de rodas e acabei ficando com ela, porque não consegui ninguém para adotá-la. O Neafa me ensinou a ser o que eu sou. Eu aprendi muita coisa lá dentro. Pra você ter uma ideia, eu acho que eu sei até castrar um animal, de tanto que eu vi lá no Núcleo. Não faço porque não tenho coragem, por isso não terminei o curso de Medicina Veterinária.

Você fundou o Lar Temporário Francisco de Assis para abrigar animais resgatados. Como funciona?

O lar funciona como canil e gatil para abrigar os animais resgatados que recebem alta das clínicas e não têm para onde ir porque não são adotados rapidamente. O custo para mantê-los na clínica é muito alto. A estrutura montada por mim e pelo grupo está funcionando há um ano. Antes disso eu pagava às minhas amigas para abrigarem meus resgatados em seus quintais. Atualmente ele funciona abrigando 50 cães e 25 gatos, no Salvador Lyra, mas fomos despejados recentemente. Assinamos um contrato de um ano. O dono sabia o que funcionava no imóvel dele e apoiava a causa. Mas os vizinhos reclamavam muito. Inventavam histórias de que a gente maltratava os animais. Tudo com a intenção de que a gente saísse de lá. Eles perturbaram tanto o dono da casa, que ele pediu o imóvel de volta.

Vocês já têm para onde ir com os animais?

Sim. Nós já conseguimos alugar uma casa. Dessa vez só temos uma vizinha. Ou seja, se tivermos problemas, pelo menos vai ser com uma pessoa só. Mas a nossa ideia é comprar uma casa, para não corrermos mais esse risco.

Como são pagas as despesas?

Vivemos basicamente de doações. O aluguel da casa é pago através da venda de produtos novos ou seminovos que nos são doados para que façamos bazares. Além disso, pessoas que resgatam animais na rua e não podem levar para suas casas por qualquer que seja o motivo, podem levar o animal para o lar, pagando uma taxa de cem reais por mês para manter o animal no local até que ele seja adotado. Com o pagamento dessa taxa o animal se alimenta, é medicado, banhado e pode receber visitas de possíveis doadores. Também recebemos ração e produtos de limpeza. No fim das contas as pessoas podem ajudar de várias maneiras.

Os animais resgatados podem ser apadrinhados. Como funciona esse sistema?

Os padrinhos e as madrinhas são as pessoas que escolhem um animal ou mais para arcar com suas despesas clínicas, de medicamentos, castração. É um compromisso que aquela pessoa assume com aquele animal até que ele seja adotado. Existe até um termo que a pessoa assina. O documento não tem valor judicial, mas para mim já funciona como uma forma de tornar mais sério o compromisso assumido. Existem os padrinhos que cumprem bem sua função, mas tem também os que deixam a desejar e até os que não honram o compromisso e desaparecem para fugir da responsabilidade. Já teve gente que me excluiu de Facebook, de Whatsapp. A gente entende que nem sempre as pessoas vão ter dinheiro disponível, mas se você não tem, não custa pedir. É só publicar no Facebook que sempre aparece alguém pra ajudar: sua mãe, seu pai, seu tio. E, assim, de dez, vinte reais, quando junta, dá um dinheiro bom. Então, só não ajuda quem não quer.

No dia 20 de junho, Maceió sediou a primeira edição local da Marcha da Defesa Animal. Como o evento repercutiu no cenário da causa animal no estado?

A Marcha de Alagoas ficou em terceiro lugar no ranking de todas as marchas organizadas neste ano. Ficamos atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro. Isso é muito bom, porque, querendo ou não, somos uma cidade pequena, se compararmos com as grandes metrópoles que ficaram na nossa frente. Não foi revolucionário, porque não foi um divisor de águas no sentido de mudar a situação da causa animal para o resto da vida. Mas subiu muito o nível de doações e ajudas em geral. E conseguir concentrar mais de 300 pessoas na orla da capital em prol da causa animal é uma tarefa bastante difícil. Então isso tornou meu trabalho mais conhecido no cenário nacional. Fui colocada em grupos com os maiores protetores do país, o que me trouxe bastante visibilidade. Além disso, estou sendo comparada, assim como os grandes protetores de outros estados, com a organização local mais importante para a causa, que, no nosso estado é o Neafa. Claro que não chego aos pés deles no que se refere à quantidade. Eles castram 60 animais por dia, enquanto eu faço de 30 a 40 castrações por mês. Mas me equiparar ao Núcleo em questão de força e popularidade é muito bom. 

Recentemente você lançou, nas redes sociais, o desafio do balde de ração, inspirado no famoso desafio do balde de gelo. A ideia era desafiar seus seguidores a doarem ração para os resgatados. Como surgiu a ideia de adaptar o desafio? Como estão sendo os resultados?

A ideia surgiu em Arapiraca. As meninas da Associação Humanitária de Proteção aos Animais de Rua (AHPAR) me procuraram e me disseram pra fazer, que lá estava dando certo. Eu achei que aqui não ia ter retorno, mas resolvi tentar. Já consegui 800 quilos de ração. No Lar já não tem mais espaço para guardar tantos sacos. Mas eu não posso parar de pedir. Tenho que aproveitar o sucesso porque os animais continuam se alimentando e daqui a uns dois ou três meses essa ração vai acabar. Só não divulgamos as quantidades arrecadadas nas redes sociais porque tem um problema: quando as pessoas veem grandes quantidades, acham que já temos o bastante e param de doar. Nunca é demais para quem tem animais. Nós recebemos muitos pedidos de ajuda de outros protetores que não conseguem arrecadar. Ontem mesmo nós fomos levar ração na casa de uma senhora que tem 200 cães e 130 gatos em casa. E essas rações do desafio não podem durar muito tempo, porque criam bicho e, se os cachorros comerem mesmo assim, ficam doentes, com diarreia. Eu posto fotos das pessoas que participam do desafio porque estimula outros a participarem também. Porque existem colaboradores e colaboradores, são pessoas totalmente diferentes. Tem colaborador que gosta que você divulgue, tem colaborador que quer até que você faça homenagem a ele. Outros querem anonimato total, porque acham que eu vou procura-los quando estiver precisando. Mas o importante é que as doações estão chegando e os animais estão se alimentando.

As redes sociais são o principal meio para você divulgar seu trabalho e arrecadar doações?

Sim. Eu uso principalmente o Facebook, o Instagram, o Twitter, o Whatsapp e email. Em cada rede eu me comunico com grupos diferentes. Com as pessoas mais antigas, do tempo do Orkut, por exemplo, eu me comunico por email, porque é o único contato que eu ainda tenho. Mas a rede que mais rende doações é o Facebook, seguido do Instagram e do Twitter. 

Quais seriam as políticas públicas ideais de amparo aos animais?

Castração gratuita, delegacia especializada e hospital público veterinário. E o caminho para tudo isso é educar a população para lidar com os animais. Em Alagoas nós temos um alto índice de maus tratos, assim como em todos os estados do país, mas em alguns lugares existem delegacias especializadas no combate a esses crimes e os criminosos são punidos. A lei federal 9605, de 1998, pune com detenção de um a três anos o indivíduo que cometer maus tratos contra animais. Essa lei não se aplica aqui porque falta uma delegacia que fiscalize e puna esse tipo de crime. Porque quando se vai para uma delegacia comum, são tantos homicídios, tantos assaltos, que o seu problema acaba se tornando pequeno. E, muitas vezes, se você persiste em continuar nas grandes filas e denunciar o maltrato, acaba sendo em vão, porque não dá em nada. 

Quais são as maiores dificuldades que você avalia para serem postas em prática essas políticas públicas?

Eu acho que, como os animais não votam, nós não temos muita força para reivindicar melhorias para eles. O problema todo é a falta de interesse dos gestores.

Nesse momento de campanhas eleitorais algum candidato demonstrou apoio à causa e propostas de políticas concretas?

Nessa época apareceram muitos dizendo apoiar. Só que eu vivo o ano inteiro, desde 2006, nessa luta, e nenhum apoia de fato. Eu não vejo nenhum político engajado nisso, lutando de verdade. E, se lutou, nunca conseguiu nada. Então, eu vou considerar um político que faz alguma coisa pelos animais no dia que esse político conseguir alguma coisa. Como os de fora, a exemplo da Ana Rita Tavares, uma protetora de animais que agora é vereadora em Salvador. Lá não tem hospital veterinário público, mas ela conseguiu uma Kombi para auxiliar as protetoras em resgate, castração, consulta, emergência. Ela conseguiu o transporte, que é o maior empecilho, para que as pessoas humildes levem seus animais para serem castrados. No dia que um político daqui fizer isso, ele vai ter o meu voto, e eu vou fazer questão de divulgar no meu perfil do Facebook que fulano de tal apoia de verdade a causa animal. Hoje mesmo eu recebi uma ligação de uma candidata a deputada federal querendo que eu aparecesse com ela no horário político, querendo usar a minha imagem para se promover. Só que eu nunca a vi na vida. Ela alegou que seria bom para o meu trabalho, que eu ficaria conhecida. E eu respondi que, para isso, eu teria que pagar um preço muito alto. Porque se ela fizesse qualquer besteira, as pessoas diriam que eu estava acobertando. As pessoas costumam achar que as protetoras que se vinculam a políticos querem se promover, se candidatar a alguma coisa. A credibilidade fica abalada.

 

 

 

 

Fonte: (Jornal de Alagoas)






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